Josué: Introdução e análise expositiva do livro:
O propósito deste estudo bíblico no livro de Josué é elucidar a origem do nome, o significado do livro para os primeiros leitores, compreender o propósito do autor, qual a mensagem central, quem é o autor do livro e a data em que escreveu. Este estudo bíblico no livro de Josué se tornará mais eficiente se nos concentrarmos na teologia do livro, no contexto histórico, cultural, político e geográfico do livro. Ao final, o estudioso da bíblia terá plenas condições de compreender profundamente a mensagem do livro de Josué.
O Livro de Josué pertence ao grupo de livros Históricos do Antigo Testamento. De acordo com Hess1 o livro de Josué é o sexto livro da Bíblia e o primeiro dos livros históricos do Antigo Testamento. Ele narra a conquista de Canaã pelos israelitas sob a liderança de Josué, general do exército do povo de Deus e sucessor Moisés. O nome “Josué” vem do hebraico “Yehoshua” (יהושע), que significa “O Senhor é salvação” ou “Yahweh salva“.
Josué, originalmente chamado Oséias (הוֹשֵׁעַ, Hoshéa), que significa “salvação“, foi renomeado por Moisés como “Yehoshua” (Números 13:16)2, indicando a sua missão e a promessa de Deus de salvar e guiar Israel através dele para a terra prometida conforme prometido anteriormente a Abraão. O nome “Josué” é a forma hebraica de “Jesus“, que no Novo Testamento também significa “O Senhor é salvação“.
Propósito e Conteúdo do Livro de Josué:
O propósito do livro de Josué é mostrar a fidelidade de Deus em cumprir Suas promessas e a importância da obediência à aliança. Ele enfatiza que a conquista de Canaã não foi apenas uma campanha militar, mas um ato divino de cumprimento das promessas de Deus a Abrão, Isaque e Jacó. A liderança de Josué é apresentada como um modelo de fé e obediência, destacando a necessidade de confiar em Deus em todas as circunstâncias.
Autoria e data do Livro de Josué:
A autoria tradicionalmente é atribuída a Josué filho de Num. As evidências internas para a autoria incluem referências diretas como por exemplo (Josué 24:26). A narrativa em primeira pessoa em algumas partes do livro (Ex. Josué 5:1) sugere um relato contemporâneo dos eventos. Contudo, há também seções que refletem uma perspectiva posterior, como listas de reis derrotados e a descrição da divisão da terra (Josué 12-21). Outro ponto que merece nossa atenção é que o livro de Josué mostra uma continuidade teológica com o Pentateuco, reforçando a lei de Moisés e a aliança com Deus. A ênfase na obediência à lei e na fidelidade à aliança sugere uma autoria que estava profundamente familiarizada com os escritos mosaicos.
As evidências externas incluem a Tradição Judaica, conforme documentada no Talmude, que atribui a autoria de Josué ao próprio Josué, com adições feitas por escribas posteriores. Esta visão é sustentada pela continuidade narrativa e temática com os livros anteriores do Pentateuco. Além disso, embora o Novo Testamento não declare explicitamente que Josué escreveu o livro de Josué, ele faz menção direta a Josué e às suas ações descritas no livro, confirmando sua aceitação como Escritura sagrada e reconhecendo Josué como líder proeminente (Hebreus 4:8; Atos 7:45).
A data de composição do livro de Josué é um tema de debate entre os estudiosos. As datas propostas variam desde o final do segundo milênio a.C. até o período pós-exílico. A data tradicionalmente aceita para compilação do livro é durante ou logo após a vida de Josué (c. 1400-1370 a.C.). Esta data é baseada na cronologia bíblica que associa a entrada de Israel em Canaã com a conquista de Jericó e outras cidades.
Evidências arqueológicas que merecem atenção são:
- Escavações em Jericó: As evidências arqueológicas das escavações em Jericó, conduzidas por Kathleen Kenyon nos anos 1950, indicam uma destruição da cidade por volta de 1550 a.C., muito antes da cronologia bíblica tradicional para a conquista de Canaã. No entanto, outros arqueólogos, como Bryant Wood, argumentam que há evidências de uma destruição de Jericó por volta de 1400 a.C., que se alinha com a cronologia bíblica tradicional.
- Carta de Amarna: As cartas de Amarna, datadas do século XIV a.C., mencionam incursões de um grupo chamado “Habiru” em Canaã, que alguns estudiosos identificam com os hebreus. Esta correspondência sugere a presença de conflitos e conquistas em Canaã durante o período tradicionalmente associado a Josué.
Teologia do Livro de Josué:
A teologia do livro de Josué, conforme explicada por Richard Hess, é centrada na fidelidade de Deus, na obediência à Sua lei, na santidade da terra prometida, na guerra santa como juízo divino e na renovação da aliança. Estes temas são fundamentais para entender a narrativa de Josué e a mensagem teológica do livro, destacando a importância de confiar em Deus, obedecer aos Seus mandamentos e reconhecer a santidade de Sua presença e promessas.:
- Fidelidade a Deus: Um dos temas centrais do livro de Josué é a fidelidade de Deus em cumprir Suas promessas. O livro demonstra como Deus cumpre Suas promessas feitas aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, dando a terra de Canaã aos seus descendentes. Este tema reforça a ideia de que Deus é fiel e digno de confiança, cumprindo tudo o que prometeu aos seus servos (Josué 21:45; 23:14).
- Obediência a Lei: O livro de Josué enfatiza a necessidade de obediência à lei de Deus como condição para o sucesso e prosperidade do povo de Israel. Josué é constantemente exortado a meditar na lei e a seguir todos os mandamentos dados por Moisés. A obediência à lei é apresentada como essencial para a manutenção da aliança com Deus e para garantir a bênção contínua sobre Israel (Josué 1:7-8).
- Santidade da Terra: Canaã é retratada como uma terra santa, dada por Deus a Israel. A conquista e a posse da terra são atos de cumprimento da promessa divina, e a terra deve ser mantida pura e livre de idolatria e pecado (Josué 5:13-15). Este ponto é crucial para que possamos compreender o juízo de Deus no futuro ao permitir invasões de outros povos e o cativeiro Assírio e Babilônico.
- Guerra Santa e Juízo Divino: O livro de Josué contém relatos de batalhas que são descritas como atos de guerra santa, onde Deus luta por Israel contra os povos cananeus. Essas batalhas são vistas como atos de juízo divino contra a iniquidade dos habitantes de Canaã. Neste caso, o povo de Israel é servo de Deus como instrumento de juízo e aplicação da justiça sobre aqueles povos e, em algum momento no futuro estes povos também serão instrumentos de juízo e justiça nas mãos de Deus para correção do povo de Israel (Josué 6.2-5).
- Aliança: O livro de Josué termina com uma renovação da aliança em Siquém, onde o povo é chamado a reafirmar seu compromisso com Deus e a seguir Seus mandamentos (Josué 24:14-15). Esta renovação da aliança reafirma a identidade de Israel como povo de Deus e a necessidade de lealdade contínua ao SENHOR.
Contexto Histórico Cultural do Livro de Josué:
O livro de Josué narra eventos que ocorrem aproximadamente entre 1400 e 1200 a.C., durante a transição do período de peregrinação no deserto para a conquista e estabelecimento de Israel na Terra Prometida, Canaã. Este período é crítico na formação da identidade nacional e religiosa de Israel. O mundo cultural de Josué é marcado por uma mistura de práticas e crenças cananeias e israelitas. A cultura cananeia influenciava fortemente a região, e a integração ou separação dessas influências era uma questão crucial para a identidade de Israel.
- Conquista de Canaã: O livro de Josué começa com a entrada de Israel em Canaã, seguindo a morte de Moisés. Josué lidera a nação na travessia do rio Jordão, simbolizando um novo começo e o cumprimento das promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó. As campanhas militares descritas no livro, incluindo a queda de Jericó, a batalha de Ai e a campanha no sul e no norte de Canaã, são retratadas como atos de conquista divina.
- Religião e Idolatria: Os cananeus eram conhecidos por seu politeísmo e práticas religiosas que incluíam a adoração de deuses como Baal e Aserá. A presença de altares e ídolos cananeus em locais de culto foi uma tentação constante para os israelitas.
- Estrutura Social: A estrutura social em Canaã durante o período da conquista era composta por cidades-estado independentes, cada uma governada por um rei. A aliança entre essas cidades-estado era comum em face de ameaças externas, como a invasão israelita.
Contexto Geográfico do Livro de Josué:
A geografia de Canaã é variada e inclui montanhas, vales, planícies costeiras e desertos. Esta diversidade geográfica influenciou significativamente as campanhas militares de Josué e a distribuição da terra entre as tribos de Israel.
- Jericó: Localizada perto do rio Jordão, Jericó foi a primeira cidade conquistada por Israel. Suas muralhas e a queda miraculosa são emblemáticas do poder de Deus na conquista.
- Ai: A pequena cidade de Ai, localizada ao leste de Betel, foi o segundo alvo de Josué. Após um fracasso inicial devido ao pecado de Acã, Josué finalmente conquistou a cidade.
- Gibeão: Uma cidade cujos habitantes enganam Israel para formar uma aliança de servidão, mostrando as complexas relações diplomáticas da época.
- Hazor: Um importante centro cananeu no norte, cuja destruição simboliza o domínio de Israel sobre Canaã.
- Divisão da Terra: A divisão da terra entre as tribos de Israel, conforme descrita nos capítulos 13-21, é crucial para entender a organização social e religiosa da nação. Cada tribo recebeu uma porção específica, com atenção especial dada às cidades de refúgio e aos levitas.
- Cidades de Refúgio: Estabelecidas como lugares onde pessoas que cometiam homicídios involuntários podiam buscar asilo, refletindo uma sociedade com um forte senso de justiça e provisão para a segurança comunitária.
Estrutura de Seções do Livro de Josué:
- Preparação e Entrada na Terra Prometida (Josué 1-5)
- Comissionamento de Josué (Josué 1): Deus encoraja Josué a ser forte e corajoso e a seguir a lei de Moisés. Josué assume a liderança de Israel após a morte de Moisés.
- Espias em Jericó (Josué 2): Josué envia dois espiões a Jericó, onde são ajudados por Raabe, que esconde os espiões e confessa sua fé em Deus.
- Travessia do Jordão (Josué 3-4): Os israelitas atravessam milagrosamente o rio Jordão, que se abre para que eles passem. Doze pedras são retiradas do leito do rio para servir como memorial.
- Circuncisão e Páscoa em Gilgal (Josué 5): Os israelitas são circuncidados em Gilgal como sinal da renovação da aliança e celebram a Páscoa antes de iniciarem as conquistas.
- Conquista de Canaã (Josué 6-12)
- Queda de Jericó (Josué 6): A cidade de Jericó é conquistada milagrosamente quando as muralhas caem após os israelitas marcharem ao redor dela por sete dias.
- Derrota e Vitória em Ai (Josué 7-8): Os israelitas sofrem uma derrota inicial em Ai devido ao pecado de Acã, mas depois conquistam a cidade após purificar o acampamento.
- Aliança com os Gibeonitas (Josué 9): Os gibeonitas enganam Israel e fazem um pacto de servidão para evitar a destruição.
- Conquistas no Sul e no Norte (Josué 10-11): Josué lidera campanhas militares bem-sucedidas contra várias coalizões de reis cananeus no sul e no norte de Canaã.
- Lista de Reis Derrotados (Josué 12): O capítulo lista os reis e cidades conquistados por Moisés e Josué.
- Distribuição da Terra (Josué 13-21)
- Terras a Serem Conquistadas (Josué 13): Identificação das terras ainda não conquistadas e instruções para a distribuição das terras a leste do Jordão.
- Distribuição da Terra a Oeste do Jordão (Josué 14-19): Detalhes da divisão da terra entre as tribos de Israel, com Caleb recebendo Hebrom como herança especial.
- Cidades de Refúgio e Levitas (Josué 20-21): Estabelecimento de cidades de refúgio para homicidas involuntários e a designação de cidades para os levitas.
- Compromissos e Renovação da Aliança (Josué 22-24)
- Retorno das Tribos Transjordânicas (Josué 22): As tribos de Rúben, Gade e metade de Manassés retornam às suas terras a leste do Jordão e constroem um altar que causa um mal-entendido com as outras tribos.
- Discurso de Despedida de Josué (Josué 23): Josué exorta o povo a permanecer fiel a Deus e a seguir Seus mandamentos, alertando sobre as consequências da desobediência.
- Renovação da Aliança em Siquém (Josué 24): Josué convoca Israel a renovar sua aliança com Deus, relembrando-os das grandes obras que Deus realizou por eles. O povo promete servir a Deus fielmente, e Josué estabelece um memorial para selar o compromisso.
O Evangelho no Livro de Josué:
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Conclusão do Livro de Josué:
O estudo do livro de Josué revela um Deus fiel, que cumpre Suas promessas e exige obediência e santidade de Seu povo. A narrativa de Josué, desde a travessia do Jordão até a distribuição da terra e a renovação da aliança, proporciona uma rica fonte de lições espirituais e teológicas. Este livro desafia os crentes a confiar plenamente em Deus, a obedecer à Sua palavra e a viver de maneira que reflita Sua santidade e justiça.
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